segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Operação cosmética ao rosto do presidente


Canal de Opinião por Adelino Timóteo
O presidente Nyusi beneficiou de uma operação cosmética ao rosto, e de vulto, por isso o seu sorriso pelo mundo afora não é mais do que brilhante, superando os seus detractores internos. E não é só ele quem ganhou com essa operação de mudança de rosto. Vimos pelas imagens que nos chegaram da Gorongosa que o regime sofreu uma grande operação plástica sem precedente e nem os aduladores e apoiantes do fanatismo conseguem olhar-se ao espelho, dada a mudança de paradigma, que levou Nyusi a ir à base, em vez do sentido inverso, como o de atrair o seu oponente a Maputo.
E isso é a história. Não é por acaso, mesmo a “mídia” engajada e alinhada nos apresentou um rosto diferente daquele que conhecíamos, sem aquele linchamento que os caracteriza, contra o opositor. É um dado adquirido que o nexo de casualidade da mudança do rosto outrora tristemente célebre de Nyusi foi o seu encontro com o presidente da Renamo e o pai deste.
A operação cosmética do regime representa uma lavagem de cara, do rosto, das suas acções carnificinas contra o líder da Renamo, o carismático Dlhlakama, representa um ponto de inflexão, de não-retorno. Desanuviaram-se as tensões entre os militares, os generais adeptos da guerra, as eternas sanguessugas do belicismo.
Não é por acaso que desapareceu dos rostos dos jornais públicos a figura dos cães de caça do regime, os porta-vozes da contenda, os adeptos da caça ao Dlhakama e os seus comandos, como o general da primeira linha, Chicatlango, que por estas alturas creio combalido algures, na cidade capital, depois de tantas batalhas fracassadas, na sua promessa de trazer ao presidente a cabeça de Dlhakama na bandeja.
Se é verdade que o rosto revigorado do presidente pareceu mais solidário e generoso, por outro não escondeu a sua frustração. Foram gastos milhares e milhares de dólares, em armamento, além de recursos humanos, na perseguição ao homem. O resultado foi de soma zero. E a frustração reproduz o cansaço sobre os relatórios triunfalistas de Chicatlango, na caça ao homem, geralmente positivos, enquanto no teatro das operações a força musculada nos oferece imagens de destruição do interior da Gorongosa, crianças impedidas de estudar, lares dispersos e destruídos, campanhas agrícolas comprometidas, fome e dor, para o capim.
Da saga da guerra é preciso reter que é o regime quem suscita o belicismo de Dlhakama, nas suas intolerantes campanhas tendente a hegemonia monopartidária. É o regime  quem promove a ilusão da saga, de que ciclicamente resulta na morte de milhares de jovens, comprando armas sofisticadas, para combater aqueles que tem na fisga e material incipiente o seu meio de defesa contra os adeptos do fim da liberdade de imprensa, da democracia e do centralismo.
Espero que tenha ficado a lição.
Que doravante o regime exercite a consciência antes de promover aventuras alucinantes do género, pois os que lucraram com os dois anos de guerra são os generais, que regressam às casas com turmalinas, pontas de marfim e alguma maconha da Gorongosa, que dizem mais requintada para prosperar em negócios de alucinogénios, pelas capitais provinciais.
Na semana passada vimos como o rosto do presidente mudou, depois de encarnar o de figuras sinistras, pesadas, da história universal. Vimos-lhe cair, abandonar o rosto retrógrado de raposa ranhosa, para encarnar a de um pombo.
Phambeni! (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 14.08.2017

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